sábado, 14 de agosto de 2010

As carça branca dança só, meu vistido balanga e balanga

Trilha: http://www.myspace.com/letieresleiteamporkestrarumpilezz

Sexta-feira, 13, às 20h40, cheguei no Terreiro de Itapeva. O som alto vinha desde o outro lado da calçada. Vi uma pessoa na porta, perguntei se eu podia entrar, ela disse que sim, entrei na área escura, ouvindo o som dos tambores. A porta parecia trancada, me virei para a esquerda e fui seguindo o som até chegar no quintal, uma casa toda enfeitada, no teto bandeirinhas brancas que dançavam com o vento. Muitas pessoas em pé batendo palma e todos os médiuns e ajudantes cantando sem parar. Celinho, quem me convidou, estava ali, tomado por um poder superior, com o rosto e o semblante completamente diferente daquele que conheci outrora. Sentei do lado esquerdo, no canto, como costume desde o primário e comecei a observar como tudo acontecia.
Iam recebendo o santo, caminhando de um canto para o outro, com uma pausa do meio, e nos três lugares faziam seus sinais no chão, seus gritos diferentes e então o som tornou-se ensurdecedor. De tão alto vibrava meu coração ao som do atabaque, todo mundo cantando muito forte e muito alto, acho que me impressionou pensar que no dia seguinte não poderiam sequer falar bom dia, por estarem sem voz. Uma fila foi se formando no canto direito, e uma mulher me convidou para ir. Peguei minha bolsinha preta, tirei a boina preta da cabeça e adentrei-a na bolsa. Fiquei na fila, prestando atenção em todos da fila, em tudo o que me transmitiam, e em todos os médiuns, o que cada um fazia, como fazia, o que gritava, como andavam, se riam, se choravam, em tudo. Eu queria ver tudo e mais um pouco, eu queria estar preparada para vê-los a olhos nus.
Entrei no salão e conversei com um Boiadeiro chamado Mata-Virgem.
A linha da esquerda precisa começar e as luzes se apagam. Tudo muda. O semblante de todos lá dentro começam a ficar de uma certa forma, com esperteza no olhar. Os cantos dos olhos são mais usados, o cantinho da boca sorri mais do que os lábios carnudos, as mãos se descruzam, as pernas se descruzam e fica um ar de malandragem tomando conta do salão. As bandeirinhas brancas no topo das paredes se balançam novamente, um vento absurdo entra no salão, e todo mundo parece estar com muito frio. Eu estava tremendo inteira, batendo queixo, esfregando as mãos nos joelhos, com vontade de esfregar os pés também. E o sino da Igrejinha faz...
Pronto! A fila novamente do canto direito da parede, e uns falam para não usar nada preto na cabeça, outros falam para não encostar na parede por causa da energia carregada, uns avisam isso e outros oferecem farofa apimentada. Estou ansiosa para ver uma pessoa, mas ele não veio. Não foi dessa vez que pude perguntar aquilo. Mas tudo bem, amanhã será um outro dia, e tudo pode acontecer. Tranca Rua resolveu bem a situação. A minha certeza de que ficaria naquele lugar por muito tempo e que seria minha nova casa, era tão grande quanto a certeza que tenho sobre minha existência no mundo. Atendimento concedido. Pedido concedido. Meio caminho andado.
A mãe diz: Compre suas roupas brancas, fia, e seja bem vinda a nossa casa para estudar, aprender e fazer caridade!
Indescritível a sensação de alívio, bem estar e vontade de começar aquilo que acredito desde muito nova e só eu sei quantas vezes desviei, e só eu sei quantas vezes enfraqueci e esqueci de quem eu sou. Mas agora estou de volta à minha casa e ao meu ser de carne e espírito.

7 comentários:

Chico Arruda disse...

Carol gosto muito dos seus textos sobretudo os detalhes e as sequências das cenas que se desenrolam como falar fosse. Gosto bastante dos detalhes porque não são excessivamente absurdos, mas são magicamente os necessários para construir as sensações, e isso você faz como ninguém. Beijos!!!

crisemocional disse...

Texto surpreende a cada linha, parece que tb estive lá.Bjs

LATAN disse...

Q OXALA t abençoe e q tuas sete linhas t levem na direção da LUZ... Bjos meus e dos meus sete...

Claudia Sousa Dias disse...

já cá não vinha há muito tempo!

bom encontrá-la de novo Carol. Parabéns.

Tornou-se uma cronista de escrita alucinante com um discurso que obriga a ler com o máximo de rapidez e ao mesmo tempo que exige uma atenção ao detalhe muito grande de forma a que não deixemos escapar nada.

:-)

um beijo


csd

Carol Bonando disse...

obrigada Cláudia! Tem me falado isso, algumas pessoas... mas, sabe que é muito peculiar da minha fala estas caracteristicas PALAVRAS RAPIDAS E ATENÇÃO PARA NAO PERDER OS DETALHES... hahaha acho q passei bem minha personalidade para as crônicas. Volte sempre e se puder leia os outros posts. =D

Emmy disse...

Boa tarde! É com gosto que trago até aqui o meu "pelinho"! Obrigada pelos elogios ao blog. Realmente o seu é diferente mas muito interessante! Parabéns!
Cumprimentos (lambidelas) de Portugal!

Anônimo disse...

oiii
manda um e-m para allesbubi@gmail.com

quero te falar!!
bjs